Coluna Álvaro Machado Dias na Folha de São Paulo

Pessoas sem religião devem ultrapassar católicos e protestantes no Brasil

Perda de relevância espiritual e descompasso com tendências hegemônicas influenciam declínio de religiões no Ocidente.

Pessoas sem religião devem ultrapassar católicos e protestantes no Brasil

Em meu último artigo, apresentei a tese de que existe um elo entre o moralismo estridente que vem dando o tom aos debates político-ideológicos e o declínio das religiões no Ocidente. O risco de uma derrocada, ainda pouco discutido no Brasil, é percebido pelas autoridades religiosas dos diferentes países, as quais veem crescer a concorrência pelos fiéis, enquanto dízimo e frequência per capita caem.

Isso impulsiona ainda mais o mergulho das lideranças do segmento na política, o que acelera a secularização, já que promove a exposição de práticas tradicionalmente resguardadas e rebaixa a importância da espiritualidade no combo oferecido.

O aumento da competitividade leva ao radicalismo como estratégia de diferenciação, em compasso com a realpolitik, em que a concentração de posições moderadas impele movimentos para as pontas, que crescem até o rechaço do eleitorado, levando então ao recrudescimento do centrismo e assim por diante.

Acontece que o pragmatismo político secular possui bem mais espaço para se desdizer e se reposicionar que o religioso, que a cada refluxo do conservadorismo na política perde um pouco de espaço na vida íntima da população.

A ascensão dos sem religião ocorre de maneira acelerada e já aparece nos dados da World Value Survey. Dos 46 países visitados na mais recente pesquisa do grupo, 43 haviam se tornado menos religiosos (período 2007-2019), sendo que os poucos que divergiram o fizeram sob condições muito específicas, como é o caso da Índia, onde o hinduísmo serve de esteio político ao populismo étnico do Partido do Povo Indiano, de Narendra Modi, e a Alemanha, que recebeu milhões de imigrantes muçulmanos.

O crescimento dos não afiliados e ateus nos Estados Unidos jogou por terra a tese do excepcionalismo religioso americano, que servia de contraponto à relação inversa entre progresso material e religiosidade no Ocidente e mesmo fora deste.

Esse fenômeno é menos induzido pela perda de religiosidade que pela dificuldade de captação de fiéis a cada nova geração, tal como expresso pelo fato de que existem mais jovens sem religião em São Paulo e no Rio de Janeiro que católicos ou evangélicos.

Mas, afinal, por que as pessoas estão se tornando menos religiosas no Ocidente?

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