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Entenda como IA e visão computacional estão revolucionando a dermatologia

Apps de análise de pele mostram que algoritmos e visão computacional são capazes de diagnosticar problemas de pele, com Álvaro Machado Dias, futurista e professor livre-docente da UNIFESP.

  1.     Como estão sendo desenvolvidas as tecnologias de IA para a análise de pele?

A ferramenta da Natura e outras combinam duas dimensões: um identificador das diferentes partes do rosto e uma análise automática das mesmas. Para identificar as partes do rosto, o ideal é usar realidade aumentada: a câmera do celular é aberta e apontada para as diferentes partes, como região dos olhos, testa e afins, que assim são circunscritas com a ajuda do software.

Em seguida, cada imagem é registrada e enviada para uma nuvem, em que um algoritmo (a IA) faz a classificação da pele em função de suas características (rugas, presença de manchas, luminosidade e afins), por fim gerando uma classificação única, a qual dá origem à recomendação de um produto.

Em casos como esse, costuma-se usar a combinação de dois algoritmos para gerar a classificação. Um encontra padrões na pele, separando rugas de pele lisa, por exemplo, e outro para de fato classificar a pele. Este último é o mais importante e costuma ser de um tipo chamado deep learning.

A classificação é baseada em dois princípios: (1) Atribuição de uma nota comparativa para cada dimensão da pele, à luz dos rostos já classificados. (2) Combinação dessas notas, considerando o peso relativo de cada dimensão, além da idade e detalhes do questionário respondido previamente.

O resultado final gera uma indicação de produto da linha Chronos, replicando aquilo que um consultor faria, usando o seu cérebro. Esta última etapa é feita por um outro algoritmo, que não é inteligência artificial mas “árvore de decisão”.

2.      Quais os objetivos desse tipo de análise e no que a inteligência artificial ajuda?

O objetivo é vender mais. Sempre. A ideia para tanto é reforçar a noção de que as recomendações de produtos são customizadas. Neste sentido, o princípio é o mesmo das redes sociais e buscadores, que customizam os conteúdos que aparecem para você, com base no seu comportamento, incluindo perguntinhas, que vez por outra você responde sobre o que acabou de ver (gostou/não gostou, etc.).

A inteligência artificial de fato ajuda muito na geração de recomendações customizadas, alinhando interesses corporativos aos dos clientes. A única parte que perde é a dos consultores (e, indiretamente, a dos dermatologistas) que vão tendo parte de suas atribuições automatizadas, por mais que isso seja terminantemente negado por todas as empresas.

3.      Quanto a tecnologia pode facilitar os cuidados com a pele?

Bastante. Aplicativos já são capazes de identificar uma série de questões cosméticas e mesmo questões dermatológicas mais sérias. É inevitável que todo reconhecimento de padrões, incluindo o dermatológico, seja 100% realizado por algoritmos, já que está mais do que provado de que são no mínimo tão bom quanto os especialistas, além de serem rápidos, incansáveis e portáteis.

4.      Em que pé estamos nesse tipo de desenvolvimento no Brasil? Existem riscos de esses apps de análise dermatológica violarem a privacidade dos usuários?

Ao contrário do que diz o senso comum, o Brasil é muito avançado nesta área. O problema do Brasil é na geração de novas tecnologias; sua incorporação à esfera do consumo funciona bem.

O risco de violar a privacidade dos usuários é baixa por uma questão lógica: o cliente precisa liberar intencionalmente seus registros fotográficos e dados de perfil para que a análise seja feita. A hipótese de que, a partir disso, a Natura ou outro gigante da área possa fazer um uso espúrio desses dados é pouco relevante, já que o principal objetivo da dinâmica – a recomendação de um produto – é feita sob anuência do cliente.

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