Terra
Há momento ideal para amar novamente após o luto?
Quando se abrir novamente ao amor?
- como seguir em frente depois de perder alguém?
Essa pergunta se coloca sobre uma outra: devemos mesmo seguir em frente depois de perder alguém? Não necessariamente. Se a perda tem contornos de um luto (real ou simbólico), como num casamento destroçado, ou ainda, se a perda envolve a necessidade de ressignificar a vida como um todo, como é comum quando filhos estão em jogo, então, o melhor a fazer é não tentar seguir em frente de primeira, mas, dar-se um tempo para processar os sentimentos emergentes e para planejar o futuro com calma e segurança.
A premissa de que devemos superar as dores da alma rapidamente, evitando o sofrimento, é irmã daquela que diz que a culpa é toda do outro. Ambas reforçam percepções e comportamentos pouco adaptados e bloqueiam o aprendizado sentimental. São, enfim, péssimas ideias que se popularizaram, virando verdadeiros dogmas.
Por outro lado, existem as situações em que as pessoas não conseguem seguir em frente após meses de imersão no processo de perda e reflexão sobre a nova condição. Essas não são nada positivas.
Nestes casos, os sentimentos dominantes tendem a ser a culpa e medo. Estes impactam a autoestima, lançando dúvidas sobre a capacidade de ser feliz, o que por sua vez estimula o conjunto cérebro-mente a produzir pensamentos recorrentes, chamados de ruminação.
Na prática, é este conjunto de ideias que tomam a mente de maneira recorrente, obsessiva, o verdadeiro impeditivo prático para seguir em frente. Parece-lhe familiar? É o que acontece quando sentimos muita raiva de alguém, por exemplo.
Para quem pode, a solução ideal é combinar terapia e meditação. A terapia ajuda a processar a situação traumática e a fazer as pazes com as representações internalizadas, enquanto a meditação ajuda a controlar os pensamentos intrusivos. Pessoalmente, acredito que muita gente nessa situação pode se beneficiar do uso de antidepressivos (alguns são melhores para ruminação do que outros). Ou seja, procurar um psiquiatra não é uma má ideia e, de forma alguma, coloca-lhe numa posição de portador de uma doença mental (o que tampouco seria um problema, diga-se de passagem).
– existe um jeito mais fácil de ensinar a cabeça que é hora de seguir em frente?
Não. Pelo contrário, a crença em fórmulas fáceis, junto com o medo de sofrer e a externalização completa da culpa, a qual blinda o sujeito da capacidade de aprender e sentir que evoluiu com a perda, é o que prolonga as consequências do luto simbólico.
O jeito mais fácil de seguir em frente é se abrindo à dor sentimental. Ao fazer isso, quase todo mundo se surpreende com o quanto é mais forte do que assumia. Isso gera ganhos de autoconfiança, os quais, somados às reflexões sobre os aspectos relacionais que podem ser elevados, injeta esperança nas projeções de futuro.
– existe um tempo adequado para engatar em um novo relacionamento?
Não. Mas vale ter em mente que um relacionamento compensatório – aquele que é consumado para evitar a dor – tende a manter essa assinatura (como todos mantém a assinatura dos seus propósitos iniciais). A vantagem de respirar um pouco antes é começar algo novo é evitar que esta relação seja subdeterminada pelo passado, o que invariavelmente irá lhe conferir papel secundário no imaginário afetivo. Mas, note, aqui estamos falando de relacionamentos como namoros e casamentos. Nada impede as pessoas de saírem, transarem e se divertirem. É importante não misturar essas coisas.
- quais dicas práticas pode dar para uma pessoa seguir em frente após esse tipo de trauma?
Perder alguém é ruim. Quase nunca a culpa é só do outro. A dor pode ser grande, mas negá-la só a torna maior; por outro lado, enfrentá-la pode lhe surpreender positivamente.
Do mais, você deve usar essa situação para refletir sobre você mesmo(a) em termos relacionais e procurar entender melhor: o que você faz que não lhe parece legal, que tipo de coisa você não quer num relacionamento e que tipo de dinâmica relacional lhe parece mais interessante. Não queira repetir fórmulas do passado, alinhe-se com a busca de um futuro melhor, partindo de sentimentos e comportamentos mais esclarecidos da sua parte.
Do mais, tenha em mente que a angústia da finitude de um relacionamento é uma prévia de uma angústia muito maior: um dia, quem irá nos deixar será a nossa própria consciência, junto com a vida que lhe insulfla. Perder faz parte deste processo é, enfim, o caminho natural da vida.
Incorpore essa lição e agradeça por estar vivo mais um dia.