Olhar Digital

Tá com raiva do seu chefe? Saiba que no futuro ele pode ser uma IA!

Imagine um dia em que você pudesse olhar para o céu e vangloriar: “I don’t have a boss”! Algo impossível? Para a Inteligência Artificial, não! Quem comprova isso? Nada menos que o Prof. Dr. Álvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, professor livre-docente da UNIFESP e sócio do Instituto Locomotiva.

– O que tem de mais revolucionário sobre Inteligência Artificial até o momento? 

O que define o quão revolucionária é uma tecnologia é o seu impacto social e não o seu grau de sofisticação técnica. Neste sentido, a coisa mais revolucionária do campo são os algoritmos de segmentação e recomendação, como o do TikTok, que é capaz de descobrir os interesses dos usuários após pouquíssimas interações. É, enfim, um super-psicólogo, impactando bilhões de pessoas, as quais, cada vez mais, agem de maneira algoritmizada em função desses dispositivos.

Outra revolução aconteceu no mundo da produção de conteúdo rápido, com esses bilhões de textos produzidos para gerar tráfego na internet (SEO). A maioria das pessoas desconhece o fato de que eles são criados por IAs, que recombinam artigos disponíveis na web. A internet livre de bots é muito menor do que parece.

Em breve, teremos revoluções muito maiores. Uma marcante terá início quando a IA for mais presente nas empresas do que as pessoas, ou simplesmente, quando a gerência passar a ser preferencialmente exercida por algoritmos. A ideia de ter um chefe que inexiste como pessoa é estranha, mas, verdade seja dita, a gestão é o grande foco da IA no trabalho, dado que é o que faz mais sentido econômico. Esta revolução deve ganhar contornos claros entre 2029 e 2032 e tornará o debate sobre a renda universal obrigatório.

  • Como fazer com que essa tecnologia se torne mais acessível, em especial nos países menos desenvolvidos?

A ideia de que existe algo pontual a ser feito na esfera da produção ou do consumo tecnológico parte da premissa de que existe uma especificidade intelectual em jogo. Não, não há.

A IA, na base, é pura modelagem matemática. A única solução para os países em desenvolvimento é o investimento massivo em edução, especialmente, na edução básica, com foco em ciências e matemática. Vale notar que IA não envolve programação de rotinas algorítimicas; ou seja, a ideia de que é essencial ensinar programação na escola nem é a mais relevante. O importante mesmo é dar boa educação formal para a população com foco no desenvolvimento do pensamento lógico-matemático e, é claro, na fluência total em inglês, língua universal da ciência e da tecnologia.

– Qual o atual cenário da IA no Brasil? Quais os projetos mais inovadores? 

O Brasil é, sobretudo, consumidor de tendências. Não há projetos revolucionários de IA no país.

O que nós temos são boas aplicações, as quais são suficientes para criar verdadeiras disrupções setoriais. Um exemplo disso dá-se no agro, onde empresas como a Agmind e a Agrotools vêm mudando os paradigmas analíticos, com base em IA.

– Quais os principais ganhos da IA para sociedade? 

O principal ganho de toda tecnologia é a redução do gasto energético-temporal para produzir. Isso se aplica a todas as áreas. O avanço da IA traduz-se na possibilidade de gerarmos a mesma quantidade de riqueza dos dias atuais com 1/3 ou mesmo 1/4 do esforço e tempo.

Isso deveria ser revertido em estímulo para celebrarmos a vida. Curiosamente – ou melhor, por razões complexas que não cabe discutir agora – o que ocorre é o oposto.

-Existe uma previsão para que a IA se torne uma companheira do dia a dia da população? Ou isso já está acontecendo? Exemplos.

Ela já é a principal companheira de todos nós, na medida em que vivemos uma vida digital. O interessante é que isso, do ponto de vista das nossas experiências, é muito mais prosaico e low-tech do que poderíamos imaginar.

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