Jornal da USP

Tecnologias imersivas na educação, como a IA, podem prejudicar o neuro desenvolvimento infantil

O uso de tecnologias digitais afeta o funcionamento do cérebro e gera efeitos, tanto positivos quanto negativos, de longo prazo.

As tecnologias consideradas facilitadoras, como a IA, podem ser interessantes para a educação, mas isso não as eximem de riscos. Álvaro Machado Dias, neurocientista, graduado pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP e pós graduado pela Faculdade de Medicina (FM) da USP, dá um exemplo de aplicação dessas tecnologias no ensino: em vez de a criança ler sobre História, ela pode vivenciá-la de maneira mais realista com hologramas e ambientes virtuais 3D.

Álvaro Machado Dias – Foto: Arquivo Pessoal

Entretanto, Dias avalia que o incentivo da abstração, determinante para a inteligência humana, vai diminuir. “Vai ser tudo muito mais realista e interessante, é verdade, você tem um grande impacto do ponto de vista da experiência”, diz. “Por outro lado, você tem muito pouco espaço para pensar, porque não foi desenhado para isso, foi desenhado para simplesmente viver sensorialmente essa realidade”, acrescenta.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o pesquisador afirma que isso pode mudar a forma como o cérebro infantil funciona, algo que já vem acontecendo. “O uso massivo de tecnologias digitais e de inteligência artificial na primeira infância afeta, ainda que não drasticamente, o funcionamento do cérebro e gera efeitos de longo prazo.”

Dias explica que o uso de algumas tecnologias sofisticadas contribuiu com a evolução do Quociente de Inteligência (QI) ao longo do desenvolvimento da humanidade. Porém, tecnologias facilitadoras, como a inteligência artificial, têm efeito oposto. “Isso reduz a necessidade da abstração”, afirma. “Existe uma hipótese de que isso gere um declínio da inteligência.”

Cognição social

Do ponto de vista da cognição social, ou seja, a capacidade de interagir socialmente com empatia, o uso de tecnologias traz a capacidade de manter contato com pessoas que você não se relacionaria fora desses ambientes digitais, mas “afeta negativamente o desenvolvimento e manutenção dessas competências”.

A vantagem, segundo o pesquisador, é justamente facilitar o contato entre as pessoas e contribuir, por exemplo, com benefícios para a população na terceira idade. Dias lembra, entretanto, que o uso de tecnologias facilitadoras da interação com o mundo pela população mais idosa, naturalmente, significa menos esforço cognitivo.

Isso pode ocasionar a chamada demência digital. “Pode existir uma aceleração do declínio cognitivo na medida em que o idoso esteja cercado por tecnologias baseadas em inteligência artificial e em interatividade em ambientes digitais, porque isso elimina toda a necessidade de esforço cognitivo”, conclui.

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